Será que estamos protegidas, de fato?!

por Maria Isabel Caminha, MsC
1ª Secretária e Coordenadora da Comissão
de Certificação da Associação Brasileira de EMDR
Supervisora e Facilitadora em EMDR

 

A história da humanidade mostra que a mulher sempre foi tratada de forma
pejorativa e diferenciada. De fato, somos diferentes, e viva a diferença! Não
nos referimos à anatomia e sim a um âmbito muito mais amplo.

Circulamos numa esfera entre o sagrado – a mulher casta, a mãe, a que
suporta qualquer tipo de violência sem reclamar, ou seja, a “Amélia, a mulher de verdade…”; e o profano, caso a mulher decida por uma vida diferente. E, muitas vezes pagam um alto preço ao escolher uma vida independente.

Já ouvimos que temos cérebros menores, por isso somos menos inteligentes,
que lugar de mulher é na cozinha, que somos as culpadas por toda a sorte de
mazelas da humanidade etc. Basta lembrar que cerca de sessenta mil
mulheres foram queimadas nas fogueiras da Inquisição e temos sido excluídas
da história por séculos. São muitos os exemplos, várias séries de TV e filmes
que tratam do assunto. Neste ano, inclusive, o filme Bombshell (O Escândalo),
que foi indicado ao Oscar, trata de assédio sexual sofrido por mulheres nos
Estados Unidos.

Estamos no século XXI, mas equivocados quando pensamos que as coisas
estão diferentes. Basta fazer uma viagem para a Ásia e perceber que as
mulheres não têm voz, mal são vistas; ou então, ficar atento ao número
crescente de feminicídios; ou ainda, observar o quanto o machismo estrutural
paira sobre nós e, em muitos momentos, é tão sutil que se torna quase
imperceptível. No caso das mulheres que optam por serem solteiras e não
terem filhos, muitas vezes são consideradas quase como ameaça, alienígenas,
como se estar sozinha ou não ter filhos denunciasse uma dificuldade com sua
feminilidade, podendo haver algum problema com elas, quando, na verdade,
pode ser exatamente ao contrário, mulheres que aderiram conscientemente a
este estilo de vida e estão plenas em suas vidas.

Não resta a menor dúvida de que hoje temos mais mecanismos que nos
protegem e, cabe relembrar que há pouco tempo atrás, as mulheres não
denunciavam os abusos sofridos por medo de acabarem se tornando “rés” nas
delegacias, afinal, pelo discurso tradicional, mereciam, pediram, provocaram.

Existem vários projetos e movimentos mundiais tratando das questões relativas
ao empoderamento feminino (HeForShe – Global Solidarity Movement for
Gender Equality – criado em 2014 pela ONU) ou ao assédio sexual (“Não é
não!”, MeToo, Time’s up), são alguns deles. Tais iniciativas são fundamentais
para que as mulheres se sintam com maior suporte. No entanto, estes
movimentos podem ser muito distantes para algumas mulheres, por elas não
conseguirem perceber o respeito como um direito seu, e acabam se tornando
algo de fora para dentro. Vamos falar um pouco sobre o sentido oposto, de
dentro para fora.

Após anos de abusos, muitas mulheres acreditam que é natural ser abusada.
Não gostam, consideram desconfortável, mas acabam “engolindo”. Quem
nunca ouviu: “Não existe mulher fria, existe mulher mal cantada”? Esse tipo de
frase perpetua a ideia de que cabe ao homem insistir e, se por acaso, não
atingir seu objetivo, fica autorizado a utilizar algum grau de violência para
conseguir o que quer. Fomos criadas para sermos “boas meninas”, temos toda
uma cultura que corrobora com isso. A culpa e a vergonha são aliadas na
perpetuação do comportamento abusivo, principalmente no que se refere às
vítimas dele.

O carnaval, a época em que as pessoas estão mais suscetíveis ao uso de
álcool e drogas e ao desejo de liberar suas fantasias, em todos os sentidos,
torna-se propício ao assédio sexual. Os registros do Disque 100 (Disque
Direitos Humanos) e o Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher) apontam
um aumento, nos últimos dois anos, de 20% das denúncias de violência sexual
contra crianças, adolescentes e mulheres1
. Isto torna imperativo que as
mulheres estejam atentas e busquem se preservar de situações
desagradáveis, apesar de inevitáveis em infinitos contextos. Tornar-se
consciente é fundamental para a mudança. A vítima, aquela que aceita, que se
submete, que naturaliza o abuso, acaba contribuindo para a sua continuidade.
Vítimas de trauma acreditam que o comportamento abusivo é o habitual e ele
acaba fazendo parte do seu cotidiano.

Podemos considerar trauma não apenas aqueles acontecimentos catastróficos
que são facilmente identificados como traumáticos. Um trauma pode ser
constituído de situações aparentemente corriqueiras e inofensivas, mas que,
com a sua repetição, favorecem que as mulheres desenvolvam uma ideia
distorcida, enfraquecida e desvalorizada de si mesmas; incapacitadas para
dizer “não”, depauperadas em suas potencialidades, embotadas em suas
vontades. Acabam transformando a mulher no que ela passa a acreditar ser,
sem se dar conta de que está neste mundo para ocupar seu lugar de direito.

Disponível em:
https://www.mdh.gov.br/todas-as-noticias/2019/fevereiro/carnaval-registra-aumentode-cerca-de-20-em-denuncias-sobre-violencia-sexual
Vítimas de traumas diversos possuem uma forte aliada na quebra do ciclo de
violência em suas vidas, a Terapia EMDR.

A Terapia EMDR, criada na década de 1980 por Francine Shapiro, nos Estados
Unidos e utilizada, inicialmente, para o tratamento de Transtorno de Estresse
Pós-Traumático poderá ajudar de maneira eficaz, uma vez que inúmeras
pesquisas demonstram sua efetividade, auxiliando no rompimento dos ciclos de
violência e a perpetuação dele através das gerações.

À medida que os episódios vão sendo reprocessados através da Terapia
EMDR, as crenças negativas inerentes aos traumas – como por exemplo: “não
sou boa o suficiente”, “eu mereço coisas ruins”, “eu sou culpada”, “não mereço
ser amada” -, são ressignificadas e cedem lugar às crenças e sentimentos
positivos a respeito de si mesmas. O passado fica no passado e novos
potenciais são descobertos, inclusive o de poderem cuidar de si mesmas.

É fundamental que as mulheres aprendam a se proteger e a utilizar os
mecanismos de suporte que possuem.

Busque ajuda!

Denuncie!

Você não está sozinha!

E, lembre-se, você tem direito a dizer NÃO!!!

Sobre a Associação Brasileira de EMDR

Fundada em 2008, a Associação Brasileira de EMDR é composta por
psicólogos e médicos com formação em EMDR e tem seus treinadores e
facilitadores de treinamentos reconhecidos pelo EMDR Institute (EUA). As
Empresas vinculadas à Associação, EMDR Treinamento e Consultoria, dirigida
pela Profª Dra Esly Carvalho, a Empresa Equilíbrio Mente e Corpo dirigida pela
Profª Drª Ana Lúcia Castello e a Empresa Espaço da Mente, dirigida pelo Prof.
Dr. André Monteiro promovem cursos homologados em todo o país para
formação de psicólogos na técnica e a Associação Brasileira de EMDR tem
procurado difundir o EMDR em todo o Brasil.

Procure um profissional www.emdr.org.br

Será que estamos protegidas, de fato?!

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